quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

De onde tirei essa idéia

Por Paulo Brabo

A primeira coisa ao mesmo tempo evidente e terrível a se reconhecer é que o texto não é idêntico à sua interpretação. Texto algum bastará para fazê-lo abraçar essa convicção, mas se você chegar até aqui, se for capaz de ultrapassar esse ponto, poderá palmilhar sozinho o restante do caminho. Não precisará mais de mim, dos parágrafos seguintes ou de texto algum.

As sociedades construídas ao redor da palavra escrita vivem debaixo de uma maldição e de uma contradição. A maldição está em que as palavras não existem no mundo real, são sinais mágicos, aproximações e convenções que tatuamos no papel e que só têm vida e realidade na mente de quem acontece de estar pensando nelas. A contradição está em que, embora nos afirmemos leais às palavras e ao sentido das palavras, somos na verdade leais à vida artificial que imprimos (ou deixamos que outros imprimam) às palavras na nossa própria mente. Afirmamos fidelidade e reverência ao texto, mas na realidade somos fiéis à interpretação que elaboramos para o texto na nossa cabeça.

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